Proteger 5% do concelho — será pedir muito?
- Milvoz - APCN
- 14 de mai.
- 2 min de leitura
Nos últimos anos, temos acompanhado com crescente preocupação a situação da biodiversidade na nossa região, em particular no concelho de Coimbra, onde a grande maioria da cobertura florestal é dominada por monoculturas de eucalipto e áreas infestadas de espécies invasoras. As poucas áreas de floresta multifuncional e biodiversa que restam enfrentam pressões crescentes e riscos reais de degradação.
Em parceria com a Câmara Municipal de Coimbra, a Milvoz tem trabalhado para proteger os últimos hotspots de biodiversidade do concelho. No âmbito de um financiamento INTERREG, a Câmara apresentou um projeto para a criação de uma rede municipal de microreservas. A Milvoz, contactada para o efeito, identificou 36 áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade e dos serviços de ecossistema no concelho.
Estas áreas representam apenas cerca de 5% da área total do município, mas, se devidamente protegidas, podem garantir a conservação de uma fração muito significativa da riqueza natural de Coimbra para as gerações futuras.
No entanto, a pressão sobre estas áreas tem vindo a aumentar de forma alarmante — especialmente nos últimos dois anos. Dos 36 hotspots de biodiversidade identificados, dois já foram completamente destruídos, poucos meses após o anúncio oficial da intenção da CMC em criar a rede de microreservas. De entre as áreas prioritárias, 24 já foram fortemente impactadas por cortes indiscriminados associados à má aplicação das faixas de gestão de combustível. Esta situação, agravada pela invasão de espécies exóticas, tem vindo a comprometer seriamente a integridade ecológica dos locais.
Como se não bastasse, novas ameaças continuam a surgir. A construção de parques fotovoltaicos já hipotecou duas das zonas identificadas, e o roubo de madeira permanece como um problema crescente, fruto da falta de fiscalização e monitorização. Projetos de infraestruturas diversas continuam a incidir desproporcionalmente sobre estas áreas sensíveis, mesmo quando existem alternativas viáveis com impacto ambiental muito inferior.
Este é um cenário preocupante e, acima de tudo, inaceitável. Como é possível que, com grande parte do território do concelho disponível para este tipo de projetos, se permita impactar exatamente os 5% prioritários a proteger?
Só 5%!É apenas isso que pedimos — a proteção de 5% da área do concelho, suficiente para salvaguardar os ecossistemas mais valiosos que ainda restam. Mas são precisamente estes 5% que correm o risco de desaparecer se não forem tomadas medidas urgentes.
Coimbra tem a oportunidade de liderar
Coimbra pode afirmar-se como uma cidade moderna, responsável e visionária. Este projeto tem o potencial de colocar o concelho no mapa — não apenas a nível nacional, mas também internacional — como exemplo de planeamento sustentável, onde os recursos naturais endógenos são valorizados e colocados ao serviço das comunidades.
Pedimos, por isso, à Câmara Municipal de Coimbra que tome medidas urgentes para avançar com a criação da rede de microreservas e garantir a proteção destas áreas ecológicas essenciais. O momento é agora. Se não agirmos, corremos o risco de perder uma oportunidade histórica para tornar Coimbra um exemplo de desenvolvimento sustentável e de preservação ambiental.
Coimbra pode — e deve — ser uma cidade que respeita, valoriza e protege os seus ativos naturais, assegurando um futuro competitivo, atrativo para talento e investimento, e reconhecido como referência em planeamento urbano sustentável.
Não deixemos escapar esta oportunidade!

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